quinta-feira, 13 de setembro de 2007

A importância da Comunicação na vida cotidiana


A importância da Comunicação na vida cotidiana
Comunicação e política: o significado da interdependência dos dois agentes

Rafael Murta Reis

Podemos identificar a existência da comunicação, mesmo no seu sentido mais restrito – a tentativa do diálogo entre dois indivíduos – em todas as etapas da trajetória humana. Como agente propulsora das relações, a comunicação se define como responsável por aquilo que chamamos de sociedade. Neste recorte assume o perfil ativo, onde consequentemente define, através de um canal, a relação existente entre os membros de um grupo. A sociedade só se define como tal pela capacidade de relacionamento e interlocução entre os indivíduos que a ela pertence. São elas, a sociedade e a comunicação, dois agentes que se interdependem e que assumem alternadamente, mas não necessariamente em tempos diferentes, o perfil ativo e passivo. A comunicação pode ser identificada como causa da sociedade, mas também a sociedade deve ser entendida como fator determinante para a comunicação.

Dada a relação entre os indivíduos podemos identificar esse processo, que é definido através da interlocução dos participantes. Chamamos de comunicação todo processo de troca simbólica e informacional estabelecida entre: indivíduo – indivíduo, indivíduo – grupo ou grupo – grupo. Esse processo é caracterizado pela presença de um esquema, chamado por Shannon de “sistema geral de comunicação1”, onde uma fonte (emissor) que formula, através de uma codificação, determinada mensagem, que será transmitida através de um meio (canal) para um dado receptor, que irá receber e interpretá-la através de uma decodificação.
Este esquema proposto por Shannon define, evidentemente, o processo comunicacional que se deve aplicar a qualquer troca simbólica e informacional. Não se poderia causar reação ou percepção da mensagem/estímulo sem que houvesse a emissão destes provocado por algum agente.
O processo da comunicação, além de ter papel singular no estabelecimento da sociedade e das relações, cumpre três funções sociais principais, afirma Lasswell:

a) a vigilância do meio, relevando tudo o que poderia ameaçar ou afetar o sistema de valores de uma comunidade ou das partes que a compõem; b) o estabelecimento de relações entre os componentes da sociedade para produzir uma resposta ao meio; c) a transmissão da herança social (Lasswell, 1948).

Vemos nas considerações de Lasswell que a comunicação exerce papéis importantes no ambiente social, desde a conservação de suas tradições e características até uma atividade moderadora e fiscalizadora do meio. Além disso, sua importância na vida cotidiana também se define com os avanços midiáticos e seus impactos nas esferas público e privadas, como definiu Thompson em “A mídia e a modernidade”(1995). Segundo ele as ações da mídia são limitados pelas possibilidades de deixas simbólicas, pela possibilidade de interação atemporal, ou até mesmo pela separação de contexto, podem a mídia pode se definir como um poder, chamada por ele de poder simbólico.

A comunicação não se limita à uma forma unicamente instrumental, mas se define também, apoiada em cunho teórico, como responsável por outros movimentos e instituições ocorrentes dentro do aspecto social. Como pudemos perceber, a comunicação é eminentemente importante para que exista a troca de informações entre as pessoas, entidades e organizações. Muitas vezes assume caráter híbrido, evidenciando várias manifestações, que podem ser explicadas de forma pragmática ou científica – as características práticas da comunicação, principalmente as suas novas formas de manifestação são alvo de pesquisa para muitos estudiosos da área.

Vemos o crescimento das pesquisas em comunicação científica, comunicação comunitária, hipermídia, folkcomunicação, comunicação política2, entre outras. E é esta que mais nos interessa nessa discussão. Resgatamos a fala de Lasswell sobre a primeira função principal da comunicação, a da vigilância do meio e apoiados também na definição de Thompson sobre o poder simbólico, quando pretendemos traçar um panorama entre comunicação e política e como os dois agente se inter-relacionam e interdependem, como fontes geradoras de impacto social.
Para Thompson o poder é um “fenômeno social” que pode se identificar desde as ações especificamente políticas até as interferências de outras instituições, como as econômicas, as religiosas e a própria mídia. Associado ao aspecto político o poder ganha essa notoriedade devido a sua concentração em ambientes em que o agente político ou a política se faz presente, inevitavelmente o posicionamos na esfera de governo, o Estado.

É importante recordar João Ubaldo Ribeiro, quando diferencia o aspecto maior do Estado, como instituição rígida e de cunho legal irrefutável, do aspecto fluido e mutável que é o governo, instância ancorada a aspectos ideológicos partidários.

Em todos os seus possíveis aspectos podemos generalizar de certa forma poder com a fala de Thompson (1995):

No sentido mais geral, poder é a capacidade de agir para alcançar os próprios objetivos ou interesses, a capacidade de intervir no curso dos acontecimentos e em suas conseqüências. No exercício do poder , os indivíduos empregam os recursos que lhes são disponíveis; recursos são os meios que lhes possibilitam alcançar efetivamente os seus objetivos. [...] O poder político se deriva da atividade de coordenação dos indivíduos e da regulamentação dos padrões de sua interação. [...] O poder simbólico nasce na atividade de produção, transmissão e recepção do significado das formas simbólicas. A atividade simbólica é característica fundamental da vida social. Na produção de formas simbólicas , os indivíduos se servem destas e de outras fontes para realizar ações que possam intervir no curso dos acontecimentos com conseqüências as mais diversas (Thompson, 1995).

Podemos agora desenvolvem o nosso panorama sobre a relação comunicação – política já que alguns aspectos desses dois agentes se fazem inteligíveis. Primeiramente o da política. O seu aspecto de influência social se define principalmente na retenção de poder junto ao Estado, esse poder lhe é garantido por um sistema estritamente governamental, ancorado teoricamente num regime democrático – não nos referimos aqui aos sistemas governamentais de caráter ditatorial, mas sim nos que configuram os Estados com participação popular nas suas decisões eleitorais – Suas influencias se definem em muitos setores como o cultural, a saúde, a educação, a economia, o trabalho, a defesa, entre outros. Todos esses fatores ligados ao domínio político, são de interesse popular e social, são inerente a qualquer cidadão e também por isso, de sua responsabilidade.

A comunicação manifesta seu poder no aspecto simbólico, ou seja, tem domínio sobre a informação e sua veiculação. Ela influencia de toda forma os movimentos populares e gerencia a imagem dos outros agentes, mesmo a da política.

Comunicação e política se relacionam de muitas formas, mas a principal intervenção notada e talvez a mais comum é a fiscalização da mídia sobre as práticas políticas. Essa ação se extremamente necessária, podemos notar com ela um contrapeso da retenção de poder. O poder atribuído a mídia está justamente contido no poder que a política é capaz de exercer. Ou seja, se a política não fosse dotada de poder junto a esfera estatal, garantido por concordância pública, a comunicação não poderia exercer seu papel moderador sem que a sociedade lhe legitimasse essa tarefa, já que não seria de interesse coletivo. Por isso defendemos a importância da comunicação na mediação das informações políticas, já que ela (a política )se vale de autoridade e poder por delegação popular e não por auto-suficiência. O poder da comunicação se sustenta aí, na tarefa a que lhe confere a sociedade em investigar e averiguar a atuação dos membros políticos na esfera pública.

Segundo Wilson Gomes a era da comunicação de massa exerce grande influência e pressão sobre a esfera política, obrigando que ela tome novos caminhos e adote novos discursos. Gomes diz que a comunicação massiva já interpola as formas tradicionais do discurso, direcionando a uma dramatização dos argumentos políticos. A retórica, elemento importante para a exposição argumentativa, ganha outros atributos, como a poética, um elemento até então desvinculado do discurso político. Explica Gomes:

[...] temos dificuldade em distinguir o estável do que se altera e tendemos a oferecer um juízo unitário sobre a política contemporânea como uma política completamente mudada. Nesse quadro de avaliações, onde nos colocamos freqüentemente, adotamos a perspectiva da alteração global: a política ter-se-ia transformado completamente em função da onipresença dos meios de comunicação de massa. Em todo lugar se proclama a nova política, completamente midiática ou espetacular ou de imagem, que teria substituído, para o bem ou para o mal, formas políticas anteriores, como a política de partidos, ou de negociação, ou de idéias ou de debates (Wilson Gomes, 2004).

A comunicação e a política são dois agentes existentes na sociedade e que possuem aspectos peculiares à influência e a transformação social. É importante notarmos que a existência desses dois elementos sociais é de grande importância no ambiente da vida cotidiana. A comunicação como elemento regulador da atuação e do discurso político é evidente e importante para que se possa esperar alguma legitimidade e coerência do discurso de seus membros. A comunicação deve ser vista como elemento ativo no processo decisório da política e, como elemento passivo no que determina as expectativas do seu público, já que esse, teoricamente, é o agente maior de todo o processo das relações políticas e comunicacionais.
Para a sociedade no geral a comunicação e a política devem ser ferramentas úteis para que se facilitem as discussões e as questões de interesses comunitários e populares, além de se afirmarem como recursos flexíveis à vontade e às determinações do todo social.
Referências bibliográficas:

DEFLEUR, Melvin L; BALL-ROKEACH, Sandra. Teorias da comunicação de massa. Rio de Janeiro (RJ): Jorge Zahar Ed., 1993.

GOMES, Wilson. Propaganda política, ética e democracia. In: MATOS, Heloiza. (org.) Mídia, eleições e democracia. Scritta.

GOMES, Wilson. Theatrum politicum I: A encenação política na sociedade dos mass mídias. In: BRAGA, José Luiz. A encenação dos sentidos: mídia, cultura e política. Diadorim.

GOMES, Wilson. Transformação da política na era da comunicação de massa. São Paulo (SP): Paulus, 2004.

VICENTE, Maximiliano Martin. (coord). Poder e comunicação. Mesa apresentada no Multicom. XXX congresso brasileiro de ciências da comunicação. Santos (SP): INERCOM, 2007.

MATTELART, Michele. História das teorias da comunicação. São Paulo (SP): Loyola, 2004.

THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Trad: Wagner de Oliveira Brandão. Petrópolis (RJ): Vozes, 1998.

1 Essa teoria é o resultado de trabalhos que começaram nos anos de 1910, com as pesquisas do matemático russo Andrei ª Markov sobre a teoria das cadeias de símbolos na literatura , prosseguiram com as hipóteses do americano Ralph V. L. Hartley, que em 1927 propõe a primeira medida precisa de informação associada emissão de símbolos (Mattelart, 1995).

2 A ciência política constitui um dos primeiros campos de aplicação do sistemismo às problemáticas da comunicação de massa (Armand e Michèle Mattelart 1995).